Passaporte para a História

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André Luiz.

sábado, 7 de agosto de 2010

Segunda Guerra Mundial

Japoneses sob o fogo nuclear
Há 65 anos, a rádio Tóquio anunciava: praticamente todos os seres vivos de Hiroshima haviam sido "queimados vivos". Era o fim da guerra para os nipônicos
por Jean_Louis Margolin




Reprodução

Espírito autoritário: neste cartão postal italiano, um gigantesco samurai destrói uma frota americana. Ao fundo, tremulam as bandeiras dos países do eixo.




O Japão é até hoje o único país que conheceu o efeito do fogo nuclear. Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, assistiu à morte de 140 mil habitantes, e Nagasaki, em 9 de agosto, da metade disso. Tudo se reduziu a gás perto do epicentro das duas bombas atômicas.

Um pouco mais longe, havia o sopro devastador da explosão e combustões espontâneas. Muitos quilômetros além, a destruição ainda se processava, mas de forma invisível, por meio da radiação. Em 14 de agosto, o imperador Hirohito gravou seu discurso, anunciando a capitulação sem condições.

Havia uma justificativa para o uso da bomba? Colocar fim ao conflito seis meses ou até um ano antes do esperado ou previsto pode explicar em parte a medida extrema. O fim da guerra poupou milhares de vidas asiáticas (incluindo japonesas) e algumas dezenas de milhares de vidas americanas. Ocorre que a consciência universal considera algumas armas ilícitas, em qualquer ocasião, e há boas razões para incluir entre elas a bomba atômica.

Do lado japonês, muitas vezes se considerou que o uso das bombas sobre o Japão, e não sobre a Alemanha, demonstrava uma forma de “racismo” ocidental. Mas isso significaria esquecer uma informação crucial: as bombas chegaram a ser armadas contra Hitler, só que ele morreu (ou se matou, embora não haja garantia absoluta do suicídio) antes, em abril de 1945, diante da vitória certa de seus inimigos.





Biblioteca do Congresso, Washington

Japoneses em estação de trem em Los Angeles: eles estavam em um país que, por conta da guerra, passou a hostilizá-los. Pelo menos 110 mil foram presos.




Tudo indica que a verdade se esconde em um detalhe tragicamente simples: o governo estava pressionado pela opinião pública, que já não suportava a morte de milhares de soldados americanos na guerra e sabia que seu armamento era superior ao do inimigo. A opção pela bomba (sem riscos de revide, pois só os EUA dominavam essa tecnologia) obedeceu ao ânimo acirrado da época: tratava-se de matar ou morrer.

Além dos mais de 200 mil mortos pelas duas explosões nucleares, há um número equivalente de vítimas dos bombardeios clássicos nas grandes cidades nipônicas. Pelo menos 100 mil civis pereceram apenas no ataque a Tóquio, que começou na noite de 9 de março de 1945. Outros cerca de 100 mil perderam a vida na ilha de Okinawa, entre abril e junho de 1945, por causa dos ataques continuados de forças americanas. Não bastasse o embate com os ocidentais, a população também foi usada por seu próprio exército como escudo humano ou incitada ao suicídio coletivo.

Nas colônias do Japão, conquistadas na guerra com a China entre 1937 e 1945, o sofrimento não foi menor. Havia nesses territórios algo em torno de 100 mil japoneses. A situação foi particularmente dramática para os colonos da Manchúria, depois da ofensiva relâmpago do exército soviético em agosto de 1945. Os civis chineses e coreanos, que durante muito tempo foram explorados e maltratados pelos nipônicos, tinham sede de revanche...

Finalmente, um número indeterminado de japoneses, seguramente centenas de milhares, morreu de fome ou de doenças causadas por desnutrição, em um país tradicionalmente deficitário em produtos alimentares. Com a sua frota mercante praticamente toda afundada, o governo não podia mais garantir o abastecimento. No total, houve 1 milhão de civis mortos, talvez mais, no arquipélago que contava então com 75 milhões de habitantes.



Coleção Particular

Massacre de Nanquim: em dezembro de 1943, o exército nipônico avançou sobre a cidade, que não teve como resistir




Entretanto, assim como no caso alemão, a árvore dos sofrimentos japoneses, apesar de volumosa, não esconde a floresta de padecimentos causados por eles a 400 milhões de habitantes dos países da Ásia e da Oceania.

O imperialismo nipônico matou perto de 20 milhões de chineses: 5 milhões foram assassinados; 2 milhões, vítimas de trabalho forçado; e provavelmente 13 milhões, abatidos pela fome. Isso é mais que as baixas causadas pelo exército alemão na Europa.

É interessante lembrar ainda que o exército do Japão fez, acima de tudo, guerra contra os civis, que representaram em média 80% das perdas de vidas nos países que sofreram agressão.

Por isso fica sempre uma pergunta: a desonra japonesa, geralmente associada à derrota na Segunda Guerra, não deveria ser aplicada ao fato de que a população ter apoiado amplamente, e até o fim, um exército, um governo e um imperador dados a métodos continuados de violência em massa e à tortura cruel de prisioneiros de guerra?

Particularmente delicada é a situação de algumas pessoas prestigiadas da sociedade nipônica, como religiosos, intelectuais e artistas. Muitos se entusiasmaram com a guerra e sonharam com a glória futura, decorrente da sujeição de outros povos.




Reprodução

A bomba de Nagasaki: no dia 06 de agosto, a guerra terminava da maneira mais trágica possível na terra do sol nascente.



De fato, à exceção de uma porção de comunistas e alguns cristãos e budistas corajosos, não havia quem contestasse o regime ou pedisse a paz. Não se encontram traços de nenhum movimento de resistência ou pacifista. Muito menos de algum chamado à resistência.

Neoescravidão

O Japão era um país com grande ímpeto imperialista nos anos 1930 e cobiçava o domínio da China. Os chineses estavam divididos internamente – o comunismo e o nacionalismo disputavam o poder. Em 1931, o exército japonês invadiu a parte sul da vasta região da Manchúria. No ano seguinte, a ocupação da área, com grande potencial agrícola e rica em minério de ferro, era total.

O avanço japonês prosseguiu nos anos seguintes, sem reação digna desse nome por parte do ocidente. A China foi sendo pouco a pouco roubada de seu povo. E com que brutalidade.

Em 1936, o Japão firmou com a Alemanha um pacto contra a União Soviética. A adesão da Itália ocorreu em 1937. Estava formado o embrião do Eixo, que lutou contra os Aliados na Segunda Guerra. O Eixo reunia países hostis à democracia e com ambições claramente imperialistas.
Hitler tentou impor uma nova ordem na Europa, com base em conceitos e providências que todos conhecem. Os militares japoneses não queriam menos que isso e pretendiam tomar para si boa parte da Ásia. Nesse processo de sacrifício dos povos conquistados, muitos trabalhadores asiáticos, chineses e sobretudo coreanos foram levados à força para o Japão. Sua sorte foi a pior possível. Eles tinham os postos de trabalho mais insalubres e perigosos. Em caso de revolta ou fuga em massa, toda a população japonesa local auxiliava a polícia e realizava uma impiedosa caça ao homem, em que não eram raros os mortos.

O balanço dessa aparente neoescravidão é assustador. Dos 42 mil chineses recrutados desde abril de 1943, cerca de 4 mil morreram antes de chegar ao destino e 7 mil no local de trabalho. Por exemplo, na obra ultrassecreta de uma espécie de cidade subterrânea para a elite dirigente (imperador incluído), entre 7 mil e 10 mil coreanos trabalhavam 12 horas por dia e tinham de se contentar com um prato de sorgo. Cinco ou seis morriam a cada dia.

Não causa estranhamento, portanto, que nos últimos grandes combates na Manchúria, sob dominação japonesa, foram vistos 600 mil soldados, acompanhados por seus oficiais, se render aos soviéticos sem lutar muito. E os que chegaram ao #seppuku# (suicídio tradicional), depois do anúncio da capitulação do Japão em 15 de agosto, foram apenas mil. O limite do imperialismo japonês tinha sido, havia muito, ultrapassado.


Jean_Louis Margolin é mestre de conferências da Universidade de Provença, escritor e pesquisador da violência japonesa na Segunda Guerra

fonte : http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/japoneses_consumidos_pelo_fogo_nuclear.html

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