Passaporte para a História

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André Luiz.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

História do Brasil

Pacifismo político
Apesar de generalizada, a violência na política é relativamente baixa no Brasil, segundo José Murilo de Carvalho e Marcos Bretas, que participaram do debate do Biblioteca Fazendo História.
Adriano Belisário

Naturalizados para muitos, os atos de violência passaram ao largo da vida política do país. É bem verdade que não faltaram atentados contra importantes governantes em nossa história. Porém, em comparação com outros países, as estatísticas apontam que o Brasil é realmente um país pacífico. Ao menos com seus mandatários.

Tema da edição do mês da Revista de História, os crimes políticos brasileiros foram analisados pelos historiadores José Murilo e Marcos Bretas no debate do projeto Biblioteca Fazendo História, no dia 17 de agosto. "Temos uma violência endêmica. Porém, quando chega na esfera política, nossas estatísticas são muito diferentes daquelas de outras nações. Os Estados Unidos, por exemplo, mataram quatro e fizeram mais de vinte atentados contra presidentes. Alguma coisa lá funciona diferente", sentenciou Murilo.

Segundo ele, algumas explicações podem ser apresentadas para tal fato: a) incompetência na hora de acertar o alvo; b) reverência pelo poder; c) pragmatismo para evitar problemas criminais; d) pacifismo, por não levar a violência exercida fora da política para dentro dela; e) hierarquia social, "pois no Brasil não se mata para cima, só para baixo e na horizontal".

Deixando a cargo dos ouvintes escolher a melhor opção, José Murilo também mostrou que nem tudo são flores e trouxe à tona alguns episódios sangrentos de nossa história. "As revoltas regenciais eram muito violentas. Na Cabanagem, por exemplo, morreram 30 mil pessoas. Isso em uma província com 200 mil habitantes. As insurgências em Pernambuco e na Bahia também se destacaram pela violência. Não brinquem com esses brasileiros", disse o sucessor de Rachel de Queiroz na Academia Brasileira de Letras.

Marcos Bretas começou sua explanação diferenciando crimes políticos dos usuais. Apoiando-se em uma definição do sociólogo francês Roland Barthes, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro afirmou que "enquanto o crime comum se explica isoladamente, por si mesmo, o crime político é parte de uma estratégia maior". Bretas mencionou ainda a ação de alguns movimentos anarquistas do século XIX para exemplificar as motivações de um crime político. "Naquela época, a violência aparecia em nome de um ideal. Alguém se convencia que estaria fazendo um bem para o país livrando-o de um político importante e que, para acordar as pessoas, nada melhor do que uma boa bomba", brincou.

Segundo Bretas, porém, não há lado bom possível no uso da violência. O historiador destaca como o abuso da força é visto de maneira desigual, citando o caso do assaltante de bancos conhecido como Mineirinho, morto pela polícia com treze tiros de metralhadora em 1962. "A repercussão da imprensa na época foi semelhante aos discursos de hoje: matar bandido pode, só não vale exagerar. Por isso, a emergência do discurso dos direitos humanos é fundamental. Ninguém pode ser tratado desta maneira", criticou.

De acordo, José Murilo acrescentou que, apesar dos avanços, as delegacias de polícia são lugares onde sistematicamente não se respeita pessoas de classes sociais mais baixas. Para ele, a reação contra a violência do Estado ganhou força a partir da Era Vargas, quando o governo passou a incluir intelectuais e políticos na lista de torturados. Já no governo militar, Murilo lembrou que os opositores do regime também protoganizaram momentos de violência, como no caso das guerrilhas armadas. Porém, em relação aos torturadores do governo, o historiador considera difícil superar a impunidade pelos crimes cometidos porque “muitos dos beneficiados por aquele governo ainda estão no poder hoje”.

Apesar do relativo pacifismo político do povo brasileiro, Murilo lembrou de três casos nos quais os crimes políticos mudaram a história do país: a morte de João Pessoa e Pinheiro Machado, além do atentado contra Carlos Lacerda. “Estes casos geraram uma inversão de expectativas interessante. Foram situações onde um defunto reverteu todo quadro político do país”, afirmou.

Respondendo as perguntas do público, apesar da seriedade do assunto, Bretas contou uma piada que serve bem para a reflexão sobre a postura do Brasil diante do uso extremo da força. “Foi feita uma missão com vários países do mundo para localizar um coelho. A polícia inglesa botou vários soldados procurando o animal e localizou o animal em uma hora. Os americanos usaram satélites e alta tecnologia e conseguiram capturar o coelho em trinta minutos. Já os brasileiros apenas entraram em uma sala fechada. Depois de quinze minutos, sai um sujeito todo arrebentado dizendo: - Eu sou o coelho! Eu sou o coelho!”.

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